Crônica excelente publicada na Revista Veja em Novembro de 2008, de autoria de Walcyr Carrasco. Estava em minhas pendências e lembrei-me dela agora, porque caiu em minhas mãos uma receita em que um dos ingredientes eram "zestes" de limão.
As observações de Walcyr são ótimas....os "modismos" no nome de um prato ou ingrediente para super-valorizá-lo (como se apenas ser saboroso e ter uma ótima apresentação não fossem suficientes).
A propósito....."zestes" são simplesmente raspas de limão.....
"Todo dia surge uma nova moda culinária! Muitos adoram demonstrar seus conhecimentos sobre cada novo tempero, ingrediente, chef ou tendência! São os gastrochatos. Um dos pratos mais falados é a tal da "espuma". Faz-se espuma de tudo, até de salmão. Fico enjoado só de pensar em espuma de peixe! Um amigo comentou, entusiasmado:
– Comi o ovo perfeito!
É um ovo cozido a determinada temperatura durante horas. Mas ovo não tem sempre gosto de ovo?
Na esteira vêm bolinhas que explodem na boca e outras novidades. Fruto da culinária do catalão Ferran Adrià. Reservas para seu restaurante, na Espanha, só com dois, três anos de antecedência. Furar a fila é mais difícil que fazer tomografia no INSS. Adrià realiza alguns eventos no exterior, mas poucos. Tem seus seguidores, sempre em endereços de luxo. Por estatística, é impossível que tanta gente tenha provado suas receitas, mas é chique falar a respeito. Há quem pague fortunas para comparecer a eventos culinários. E depois se exibir.
Vi o cardápio de um jantar caríssimo, disputado a tapas. Entre outros itens, lá estava: tartar de tomate. Não passa de tomate cru temperado.
O gastrochato jamais admitirá ter gasto uma fábula em um prato tão simples. Prefere o nome difícil: tartar! Falando das palavras: inventaram agora o "caviar" de berinjela, de abobrinha etc. etc... Caviar de verdade vem das ovas de esturjão. O resto são bolinhas pequenininhas.Quem ouve a respeito sofre ao imaginar o que está perdendo na vida. Eu digo: berinjela crua!
Outra moda é a tal da "finger food". A comida é servida em porções mínimas! Para degustação! Fui a um jantar em que tudo vinha em potinhos: um dedinho de paella, outro de macarrão, e assim por diante. Passei fome. Se minha mãe servisse tão pouco, seria chamada de pão-duro. Hoje virou coisa refinada!
Também existem os gastrochatos da saúde. Os mais extremos são os da linha vegan. É o vegetarianismo radical. Uma conhecida jamais usa em vegetais uma faca que tenha cortado carne, porque está "impura". Os vegans não desfrutam nenhum derivado de animais. Nem mel. Um amigo entrou em um novo restaurante. Prato do dia: moqueca de tofu. Eu teria fugido. O inocente sentou-se. Veio tofu no azeite de dendê. Dá para imaginar coisa menos apetitosa? Reclamou. Levou bronca da dona.
– Pensei que era um tofu refogado...
– Você devia saber que moqueca tem azeite de dendê!
Correu até a hamburgueria mais próxima.
Em outra época, a moda era a macrobiótica. Havia um regime à base unicamente de arroz integral que prometia deixar a saúde impecável. Um conhecido foi parar no hospital, com desnutrição. A explicação do mestre:
– Você não fez direito.
Um amigo natureba adora cozinhar para as filhas: tofu frito com cebolinha e arroz integral. Comentou, espantado:
– Descobri que elas comem bife escondido na casa das amigas!
– Você está criando duas carnívoras – expliquei. – Quem cresce comendo tofu vai se esbaldar na primeira churrascaria até antes de aprender a dirigir!
Vem mais por aí. Segundo descobertas científicas, quanto menos se ingere comida, mais se vive. É fato.
Há um movimento nos Estados Unidos cujos membros comem o mínimo possível.
Li numa reportagem: os seguidores fizeram um banquete em torno de fatias de beterraba! Um homem era alaranjado, com a dieta à base de cenoura!
A moda vai chegar, se já não chegou ainda! Comer com os amigos é tão bom!
Mas o gastrochato transforma o prazer em teoria. E a culinária em uma espécie de religião!
Gastronomia é uma arte. Mas pode virar uma chatice."
Comer tem que ser tudo menos chato. Se chique é passar fome, por mim podem ir todos para África e trazer quem passa fome verdadeira para cá!
ResponderExcluirO texto está o máximo :)
Minha querida....o texto está perfeito....vi uma reportagem sobre a nova culinária francesa e quase tive um treco ao ver o que eles comem e pagam caro para comer. Saca só a receita: Nabo ralado (1 colher) 1 fatia de foie-grass (é assim que se escreve?...kkkk); pipoca ( 3 unidades) e caramelo de aceto balsâmico (isto tudo servido em uma taça que mais parece um aquário em miniatura....sério....como diz um amigo "neste mundo tem gente prá tudo e ainda sobra um prá tocar gaita...bjcas
ResponderExcluirTania menina adorei! Eu rí muito! Até brinquei e também por esse mesmo motivo(dar um chega pra lá nos gastrochatos)na minha postagem de Courgettes Farcies ehehe. Amiga eu sou borralheira gosto do fogão, não sou gormet e nem confeitera rsrs
ResponderExcluirBeijos
Tania minha amiga Feliz dia internacional da Mulher para vc!
ResponderExcluirVocê é uma pessoas cheia de qualidades, no pouquíssimo tempo que estou convivendo com vc. Já aprendi ótimas receitas rsrs encontrei uma amiga solidária e sincera.
Beijos
cronoca perfeita esssa!!!!as pessoas acham que mudar nomes em receita..conhecidas ..pelo menos aqui no Brasil..é ser diferente de qualquer um de nós que fazemos cozinha como qualquer. pessoa normal..e..mudar o nome da comida..faz ela ter sabor diferente das deles(as)prefeito!!!!!
ResponderExcluirAdoro o Walcyr, adoro comer bem, adoro que outros comam bem!!!
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